Monday, January 28, 2008

Um cafezinho, por favor!


Ola, pessoal!!

Ja faz um certo tempo desde minha ultima mensagem com noticias minhas, mas isso foi devido ao fato de eu nao ter um computador na casa aonde moro. Nao ter, nao; nao tinha. Na semana retrasada criei coragem e comprei um notebook, que para quem nao esta familiarizado com os termos informaticos, eh um daqueles computadores portateis, que parecem um livro, e cabem numa malinha pequena. Como a casa ja possuia conexao de internet sem-fio, foi soh ligar e me ligar ao mundo! E aqui estou, fazendo contato imediato com voces, e vou contar um pouco sobre o que tenho passado aqui em Leeds, norte da Inglaterra.

Muita coisa aconteceu desde aquele ultimo e-mail, mas infelizmente o episodio da loura gostosa me agarrando no balcao do bar nao tornou a repetir.

Pra comecar, logo na minha segunda semana aqui em Leeds, encontrei com um grande amigo que mora em Horton (vilarejo onde morei quando vim da Espanha para ca, em abril de 2005, e ali fiquei ate novembro de 2006). Era o dia da final da Copa do Mundo - de rugby, esporte que se assemelha ao futebol, mas onde tambem se usa as maos -, que nesse ano de 2007 foi na Franca. Enfim... Fomos assistir ao jogo, e depois fomos para outros pubs, e no fim da noite, ele e um outro cara lah da area dele tinham reservado um taxi para Horton. Sem hesitar muito, resolvi ir com ele, pois seria uma chance de voltar a Horton, e rever meu ex-patrao, que mantinha guardado, alem de meus livros e discos, meu carro, na garagem do hotel onde eu trabalhava.

Apos varias cervejas, dormi, e no dia seguinte fui caminhar pelo vilarejo. Ao passar pelo hotel, vi meu carro lah, paradinho, na mesma vaga de sempre. Parei para conversar com o pessoal do hotel, e encontrei o sr. Richard, meu ex-patrao. Ele ja chegou com as chaves e o documento do carro nas maos, e apos um forte aperto de mao (nao sei se era de tanta saudade ou se era porque ja nao aguentava mais ver aquele carro parado ali, tomando uma vaga do estacionamento), me pediu para retirar meu veiculo dali. Apos 4 horas carregando a bateria, eu estava motorizado novamente. Mas dirigir um veiculo sem seguro, IPVA e vistoria aqui na Inglaterra eh um crime tao grave quanto andar com uma arma, e os 100km de Horton a Leeds foram uma aventura, e a distancia tava parecendo algo como Curitiba-Fortaleza. Me lembro de durante o percurso ter feito varios acordos com Ele para que me protegesse e que a policia nao me parasse, por qualquer motivo.

As preces foram ouvidas, e cheguei em casa sem nenhum problema. Naquela mesma semana, coloquei o carro no seguro e paguei o imposto rodoviario - que aqui se chama DVLA, mas eh o equivalente ao nosso IPVA do Brasil. Com uma diferenca: aqui paga-se o imposto para manutencao das estradas, e a mesma eh de fato feita... e muito bem feita. Nao cheguei a marcar a vistoria, e ate o momento que vos escrevo, ainda ando sem a vistoria feita, por motivos de falta de tempo e de falta de dinheiro... o negocio eh caro, e o carro nao vai passar se nao cumprir com varios quesitos... e sei que tem umas pequenas coisas para fazer no carro, como trocar o oleo do motor e alguns pneus. Mas pelo menos ja tinha o selinho do IPVA colado no vidro dianteiro, e quem apenas ve o carro, nao tem como saber se ta vistoriado ou nao, mas da pra ver que ta com o imposto pago.

Voltando a minha primeira semana em Leeds, fui a busca de um emprego. Espalhei alguns curriculos pela internet e por escritorios no centro da cidade, mas as minhas ultimas experiencias nao foram exatamente em informatica, entao, nao colhi muitos frutos desta busca. Uma coisa que nao queria era voltar a trabalhar em pubs. Nao que eu nao goste. Eh um trabalho bacana, tranquilo, e quase sem apurrinhacoes (a parte de uns bebuns que vez ou outra dao trabalho). O lance eh que eu nao queria mais trabalhar nas horas em que todo mundo ta se divertindo, entenda-se sextas e sabados a noite. Ja cheguei a falar sobre isso num texto anteiror, onde me referia ao emprego normal. Pois bem. Com o tempo passando e o dinheiro comecando a dar sinais de que a escassez viria em breve, comecei a focar no comercio. O natal tava ali (era comeco de outubro), entao, na pior das hipoteses, uma vaga temporaria nao cairia tao mal assim. E numa dessas, apos passar por varias lojas de um shopping center, parei pra tomar um cafezinho, pois queria fumar um cigarro. Entrei num Caffe Nero, que eh um coffee bar, no estilo da Casa do Pao-de-Queijo do Rio de Janeiro. Tinha um ultimo curriculo na mao, e como vi que a menina do bar tava parada sem fazer nada, comecei a puxar papo.

(OBS.: Conversa traduzida do ingles para o portugues, a fim de facilitar a compreensao)

- Dia calmo, neh!


- Eh... de manha tava um pouco agitado, mas agora que o tempo melhorou, a loja tende a ficar vazia... O povo aproveita quando faz um pouquinho mais de calor (entenda-se acima de 10C) e fica batendo perna nas ruas, pra adiantar as compras de natal... mas nem vou reclamar, to sendo paga, mesmo assim... Mas e voce... vai fazer suas compras de natal?


- Eu? Nao... acabei de me mudar pra cidade... vim de Londres... To procurando emprego, na verdade... ce num tem um pra mim, aqui nao!?


- Aqui nessa loja nao, mas tem uma outra que tao precisando desesperadamente de gente... Voce eh canadense, neh!? Melhor ainda, pois ja fala ingles...


- Quem? Eu? Nao...


- Americano, entao…


- Nao… sou do Rio de Janeiro...


- Ah, eh!? E esse sotaque carregado aih?


- Eh porque lah na America do Sul, a gente tende a aprender ingles com sotaque norte-americano...


- Caramba!! Voce sai lah do Brasil pra vir morar aqui em Leeds? Qual o seu problema com as praias?? Gosta de frio, de chuva, ou dos dois?


- Bem, eh uma longa historia...

Nesse momento uma pessoa se aproxima do balcao. Ela fala pra eu esperar um pouquinho e vai servir o cara.

Outras pessoas chegam. Ela percebe que vai ter um certo movimento, e vem ate mim e fala:

- Acho que vou ficar meio ocupada pelos proximos minutos, e vc ja ta acabando o seu cafe. Mas se vc quiser tentar a vaga, deixa um curriculo aqui que eu mando pra outra loja, via fax, mais tarde.


- Po, legal... ta aqui, oh!


- Valeu... boa sorte!


- Obrigado!! T+!



Voltei pra casa. Fiquei pensando que nao seria tao mal trabalhar num coffee bar, pois pagam o mesmo que em pubs, mas nao rola de trabalhar ate tarde da noite, ja que essas casas costumam fechar por volta das 6pm/7pm. Naquele mesmo dia, por volta das 6pm, meu celular tocou, e o gerente da outra loja me perguntou se eu poderia comparecer a uma entrevista no dia seguinte, pela manha. Aceitei, eh claro. Naquela noite, ainda fui com o Leo beber um chopp num barzinho ali perto da casa dele, que era aonde eu estava morando, e encontramos umas meninas, amigas dele, que trabalham lah perto do Cafe aonde eu faria a entrevista. Esta loja nao fica no centro da cidade, mas num bairro chamado Chapel Allerton, que eh a uns 4km do centro, e com o inverno chegando e as temperaturas aproximando-se a zero, a tal da caminhada estava descartada. Elas me deram as coordenadas para pegar o onibus e como chegar lah.

No dia seguinte, cheguei lah as 10.20am, para a entrevista que era as 10.30am... A loja tava num momento de pico, e o cara que tava atras do balcao pediu pra eu esperar um pouquinho... Me arrumou um cafe, e eu fui sentar numa mesinha, pra esperar. Passados uns 10 minutos, o mesmo cara veio falar comigo. Ele era o gerente. Perguntei se a loja tava com falta de pessoal, pois soh vi ele e mais um cara trabalhando ali, e ele me disse que ate estao com falta de pessoal, mas nao era o caso naquele momento, pois nessas lojas soh trabalham duas pessoas por turno, salvo na hora do almoco, quando tem um intermediario, e aih ficam tres pessoas trabalhando.

Conversamos por uns 10 minutos, e ele me explicou mais ou menos como funcionava o esquema ali. Pagavam salario minimo, mas nao se trabalhavam longas horas, e tinha-se a possibilidade de fins de semana continuos de folga, apenas tendo que trabalhar aos sabados vez ou outra. Falou tambem que os funcionarios tem o direito de beber qualquer tipo de cafe ou milkshake durante o turno, e a duas garrafas de Coca-Cola (600ml) por dia, mais um sanduiche, e um intervalo de 20 minutos, alem de outros pormenores. Perguntou se eu estaria interessado em fazer um teste. Eu disse que sim, e ele disse que iria me ligar naquele mesmo dia, pra me dizer a hora e o local.

Passei os tres dias seguintes sendo treinado numa loja bem movimentada, no centro da cidade. Nao era a mesma loja que eu havia deixado o curriculo, mas sim uma outra proxima a estacao de trem, e aos grandes escritorios da cidade. Ironicamente, era a area da cidade que eu gostaria de trabalhar... nao exatamente ali, mas fazer o que? Melhor do que ficar naquela mesma area pedindo esmola...

Durante o periodo de treinamento, aprendi a fazer os varios tipos de cafe, conheci a lista de produtos da casa, e me deparei com dezenas de palavras em italiano - idioma que eu nao gosto, nem nunca me passou pela cabeca aprender. Alias, o que que eh isso que a gente tem que saber hoje em dia, pra pedir um cafe, hein!? Puta que pariu… Ainda me lembro do tempo em que voce chegava no bar e pedia um cafe, e no maximo o cara te perguntava se voce queria com leite ou nao. Agora nao... Cappuccinos, maquiatos, espressos con panna, cremas, alem de estranhos nomes de coisas para comer, como focaccias e giandujas (hein!?), e outras que nao sei nem pronunciar e nem escrever, passaram a fazer parte do meu vocabulario, que eu, com toda a ma-vontade e espirito de porco que me cabem, nao fiz a menor questao de caprichar no sotaque, e ate hoje as falo com sotaque ingles - e americano, ainda por cima!

Ah, num fode... que puta mania que nego tem de botar palavra gringa no vocabulario cotidiano... eh igual aos disques e deliveries que se ve aih no Brasil... (alias, esse disk eh uma tentativa de estrangeirismo totalmente erronea, ja que a palavra disk em ingles significa "disco", e nao tem nenhuma conotacao relacionada ao ato de "discar", que em portugues usamos para dar a ideia do ato de "telefonar" – a proposito, ja nao discamos mais, e sim teclamos, neh... mas tudo bem…) Pode parecer estranho, ja que vivo no estrangeiro, mas sou meio xenofobo... ha? Nao sabe o que eh isso? Ah, vai procurar no dicionario, que essa eu nao vou explicar nao... [o acento agudo cai no "o" da silaba "no" (xe-NOH-fo-bo), mas meu teclado nao me permite acentuacao, e nem quero ficar procurando tal mapinha pra por acentos...] Me lembro que nos EUA a moda era o espanhol. Alias, ainda deve ser... sempre tem uma fiesta, um amigo ou um gracias no meio das frases deles... Aqui na Inglaterra, alem de algumas em espanhol, tem palavras em frances e em hindu (um dos idiomas da India) pra cacete!! Odeio franceses. Tanto quanto argentinos. E vah lah que nao sou muito chegado a indianos, tambem nao... E fico pra morrer quando alguem chega no Cafe e me pede um crossaint - e ainda forcam o erre, pra soar mais frances ainda - em vez de pedir um raio de um danish, palavra em ingles que equivale ao mesmo que o tal do croissant. Na Espanha, por outro lado, era radical demais: os caras traduzem tudo o que podem para o espanhol, e sem o menor constrangimento... ate a banda irlandesa U2 (pronunciada "iu-tchu"), em espanhol foi rebatizada para "u-dos"!! Putz, aih tambem achei um exagero... Bom, o assunto merece um texto a parte... outra hora falo sobre isso.

Mas voltando a minha historia (caramba, dessa vez fui longe nos meus parenteses!), ca estou eu, atualmente trabalhando como barista no Caffe Nero (
www.caffenero.com). Alias, semana retrasada fui promovido a shift leader – ou seja, posso cuidar da loja em um turno sem que o gerente esteja presente – e demorei tanto a escrever sobre meu novo emprego que ja aviso que estou procurando por um emprego novo. Eh porque agora que tenho meu proprio computador, portanto nao dependo mais de ir a biblioteca, ou de usar computadores de amigos, posso me dedicar a enviar curriculos e a estudar em casa. Quero ou voltar a trabalhar em escritorios, ou como comissario de voo pela empresa aerea local, a Jet2 (www.jet2.com).

Um grande abraco a todos!!

Ate mais!

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