Thursday, January 24, 2008

"Navegar é preciso."


"Navegar é preciso."

Esta frase, dita pelo navegador portugues Bartolomeu Dias (achei que era de Fernando Magalhaes, mas uma rapida consulta a enciclopedia Wikipedia me fez crer que estava errado), sempre gerou um duplo sentido nas pessoas. Porque o "preciso" a que o marinheiro se referia eh no sentido de "precisao", "exatidao", e nao no sentido de "ser necessario", como muitos pensam ser. Sempre tive essa frase como lema, mas tambem sempre a tive com ambos os sentidos. Mais com o de ser necessario, do que o de ser exato, na verdade.

Ja ha uns dois meses e pouco tenho andado de saco cheio de Londres. Engarrafamentos, garoa, passes semanais de metro e onibus, alem da constante ameaca de onde serah a proxima bomba; tudo isso junto tem me deixado louco. Ora pombas, trocando a bomba por um assalto, eh a mesma coisa que ta morando em Sao Paulo. E justo eu, que... bom, sou carioca, neh... enfim...

Nao me saia da cabeca a ideia de voltar pro Yorkshire. Aquilo sim, era uma vidinha boa... Mas tambem nao queria ser tao radical: Horton eh um vilarejo com menos habitantes que a minha rua no Rio. Entao dai veio a ideia... Leeds!! Sim, claro! Em Leeds vc tem a qualidade de vida que uma cidade como Londres nao lhe permite ter, mas tambem tem toda a agitacao e estilo de vida de um grande centro urbano, atualmente com pouco mais de 1 milhao de habitantes.

Lembrei do Leo, um grande amigo de Santa Catarina que trabalhou junto comigo em Horton, no ano passado. Camaradao mesmo, gente boa toda vida, que desde janeiro trocou a bucolica Horton-in-Ribblesdale (sim, esse eh o impronunciavel nome completo do vilarejo) pela agitacao - e tranquilidade - do centro de Leeds. Ele havia me visitado em Londres ha tres semanas atras, e ao conversar com ele, me veio na cabeca a tal ideia: vou me mudar pra Leeds.

Mas ainda teria que ficar mais um ou dois meses em Londres, para fazer uma grana, e ao pedir as contas, ainda receber as ferias que ainda nao havia tirado - queria tirar no natal, pra ir ate a Espanha. Entao fui seguindo... casa, trabalho, pub, casa... lembrando que eu trabalho em um pub aqui, mas preferi escrever "trabalho" e "pub" pra diferenciar "ambiente de trabalho" de "ambiente de escorar balcao". E entre cada um desses locais, um metrozinho ou onibus, soh pra estressar um pouquinho mais... Ate que um belo dia, apos mais uma das aporrinhacoes proporcionadas pelo meu gerente (carinhosamente apelidado de "mother fucker" pelo pessoal da cozinha, e de "Gordinho" por nois do bar - assim poderiamos falar sobre ele em outra lingua sem que ele percebesse que estavamos falando dele), resolvi que em Londres ja nao dava mais pra ficar. Tudo bem, naquele emprego nao dava mais pra ficar. Mas tambem ja nao queria mesmo ficar em Londres. Usaria a desculpa de nao querer mais trabalhar naquele pub para me mudar de cidade. Teria que mudar, e rapido, antes que matasse alguem, ou me jogasse de uma ponte nas aguas fetidas do rio Tamisa. A decisao foi tomada: pedirei ajuda ao Leo para voltar ao Yorkshire.

Naquela noite nao consegui dormir direito. E nao foi pelas tres cervejas que havia bebido. A ideia de fazer as malas, botar a mochila nas costas e me assentar em um novo lugar ficou me pinicando por horas, ate que uma hora o cansaco fisico e mental me venceu, e fui ter com Morfeu. A mensagem SMS enviada para o celular do Leo pouco antes de ir deitar bateu e voltou rapidamente, e com uma grande noticia: a de que poderia ir para Leeds, e contar com seu apoio na busca de trabalho e acomodacao. E ainda que ficaria em sua casa ate que me arrumasse. Perfeito. Me acomodei de novo embaixo do cobertor e fui dormir.

Aih, no dia seguinte, com a ajuda de um outro grande e eterno amigo, o Julian (esse em Londres), superei o baque da decisao de virar a mesa e comecar de novo, que era uma noticia boa, mas que coincidiu com a descoberta incidental de que meu primo Wagne havia falecido no Rio de Janeiro, vitima da violencia desgarrada que assola a Cidade Maravilhosa. Noticia ruim. Nessa noite fui para a casa do Julian, e compramos algumas cervejas e uma garrafa - pequena, de 500ml - de uisque Famous Grousse, um blend escoces muito do gostoso. A garrafa viria a ser finalizada within duas horas. Positivo com negativo se anulam, entao uma noticia ruim eh superada com uma boa, e vice-versa. Fizemos no computador a carta de demissao, e dali mesmo compramos a passagem Londres Victoria/Leeds City Centre, de onibus, claro, que custa soh 10 libras. De trem seriam 92 libras! Eu, hein... Sexta-feira, 28 de setembro de 2007, as 3pm; escreveria ali mais um capitulo da minha vida. E lah vamos nois...

Ainda na terca-feira 18/09 pela tarde, fui trabalhar, e entreguei a carta de demissao ao Mathew, assistente do gerente. O Gordinho tava de ferias em Portugal, parece que um time ingles ia jogar futebol por lah, e ele foi passar uns dias lah. Noticias dadas, continuei no trabalho ate essa ultima terca, 25, quando encerrei os trabalhos com uma limpeza de serpentinas (o famoso beer line cleaning), evento no qual temos que "jogar fora" dois pints (unidade de medida real que equivale a 568ml, e que eh como sao chamados as tulipas de chopp daqui) de cada torneira. Imaginem voces que o pub eh bem grande, e servimos 8 tipos de cervejas diferentes (Fosters, Kronenbourg 1664, Stella Artois, Peetermans Artois, Staropramen, Leffe, John Smith's e Guinness), e no total sao 22 torneiras. Ou seja, sao 44 pints de cerveja que tem que ser jogados fora, para que os tubos por onde passam a cerveja sejam preenchidos pelo produto de limpeza. Entao ficam ali, para quem quiser beber... Mas dessa vez nem bebi os 15 pints que bebi certa vez, e que me renderam um porre como ha muito nao tomava. Fiquei no modesto numero de 6 pints, e depois ainda bebi um uisque Talisker, single malt bacana de 10 anos; coisa de escoces, tambem. Esse pessoal sabe fazer bebida boa. Ooo, e como...

Nos dias seguintes, quarta e quinta, fiz as malas e as devidas despedidas de amigos e rabos-de-saia que fiz nos quase seis meses que sobrevivi a loucura do cotidiano londrino. Na verdade, depois que entreguei a carta de demissao, ja havia comecado as despedidas... barco-boate com Rodrigo/Gi/Suami/Stephano na sexta 21, sinuca e cerveja nos pubs perto de casa com o Charles, no domingo 23, grande cervejada a base de Miller com o Stephano, na segunda 24 a noite, pints no Cheers e jantar no centro com Julian, Teresa, Kirk e Marcao na quarta 26, que terminou comigo e o Julian bebendo as saideiras naquela noite na varanda de sua casa; e no dia seguinte (quinta 27) a Mariana, prima dele, deu a ideia de um churrasco naquela tarde, na varanda da casa do Julian; ali ainda se juntaram a nois as amigas Bethania e Andrea, e o Simon, namorado da Mari. E a maratona soh terminou mesmo as 5 da manha de sexta, quando ainda bebi algumas cervejas com o Suami, grande amigo que fiz na cidade, filho da Conceicao, a dona da casa que morei, depois que sai da casa do Julian.

Acordei por volta das nove da manha nessa sexta, 28, com meras quatro horas de sono e uma pequena dor de cabeca. Pra quantidade de coisas que havia bebido no dia anterior, tava no lucro. Chovia la fora. Claro. Eh Londres. Ela nao ia deixar eu ir embora calmamente, caminhando com minha mochila e minha mala de rodinhas, pelas ruas do meu bairro ate o metro. Sao Pedro abriu a torneira e sai de casa sob chuva. Pra lah de torrencial. Acho que nem no estado do Amazonas chove como choveu nessa sexta.

Peguei o onibus na rodoviaria de Victoria, e ao meu lado se acomodou uma inglesinha muito bonitinha, de Sheffield, cidadezinha que fica mais ou menos 50km antes de Leeds. Interior do pais tambem, cidade grandinha, mas nao tanto. Mais ou menos como vc pegar um onibus de Sao Paulo pra Salvador, e no seu lado senta alguem de Feira de Santana. Entao eu teria uma companhia ate quase o final da viagem. Bom, melhor do que pegar um daqueles muculmanos malucos, que por estarem no Ramadan, nao comem nem tomam banho de dia, e as vezes tambem nao tomam banho a noite nao... Apos 50 minutos de entra-aqui, entra-ali nas engarrafadas ruas do centro de Londres, entramos na M1, que eh a rodovia que cruza o pais de norte a sul. Ficamos 40 minutos numa boa velocidade ate que comecou um mega-ultra-super-hiper engarrafamento. "Puta que pariu, exclamou o Conde ao ver a Condessa nua", pensei com meus botoes. Nao ia falar palavrao alto, tampouco em outra lingua. Alem de ninguem entender, ainda ia fazer papel de maluco. Mas que deu vontade, deu. Parecia que a cidade que me foi tao hostil durante esse tempo todo, queria agora me prender ali, pra sempre... paranoia, neh? Deixa pra la...

A estrada tava toda parada. Mais parecia um grande estacionamento. O consolo foi que, durante os tais 40 minutos em que andamos a boa velocidade, o balancar do onibus fez muitos passageiros adormecerem, inclusive este que vos escreve, e a tal da inglesinha que estava ao seu lado. Ou meu, pra que fique mais claro. Acordei com a menina dormindo no meu ombro, a bochecha amassando no meu braco. Hum, interessante isso. Nao me mexi e deixei-a dormindo, ate que ela acordasse sozinha. O que, eh claro, com o parar do balanco, nao demorou muito. Mas aih comecamos a conversar. Conversa vai, conversa vem, o telefone dela nao parava de tocar, droga, tem namorado. Mas ta bom... ainda conversamos por mais umas 4 horas, e ela desceu. Pra meu azar, no lugar dela entrou um camarada mais ou menos como o Joao Gordo, e que ia ate a ultima parada do onibus, que era Newcastle, beeeemmm depois de Leeds. E eu, que tava na janela, sofri com a tentativa de violacao da lei da fisica que diz que dois corpos nao ocupam o mesmo lugar no espaco. Ou ao menos nao deveriam.

Cheguei em Leeds as 9:45pm, duas horas e quinze minutos depois do previsto, e pelo menos nao tava chovendo. A temperatura era em torno de 3 ou 4 graus (positivos), mas o vento de 20km/h dava a impressao de que tava mais frio, e avisava que o inverno esse ano vai chegar antes, ja no outono. Ao desembarcar, botar o casaco e pegar minhas coisas, senti uma sensacao de felicidade que ha muito tempo nao sentia: estava feliz por estar de volta ao Yorkshire. Era como se tivesse retornado pra minha terra natal, apos anos fora. Me fez pensar se esse conceito eh baseado somente no lugar aonde a gente nasce e cresce, ou se tambem pode ser um lugar que voce aprende a gostar, e talvez ate decida troca-lo por sua terra natal por mais de metade da sua vida... Nao sei. Tambem nao eh hora de pensar nisso. Tava feliz e pronto. Ja diziam Tom e Vinicius: "Tristeza nao tem fim, Felicidade sim..." Entao vamos em frente.

Fui encontrar com o Leo no trabalho dele, que provavelmente vai ser aonde eu irei trabalhar tambem, ate que arrume uma empresa legal pra trabalhar com informatica. Lugarzinho bacana, e um grupo de funcionarios bem legal, com varias gatinhas... Ah, se eu trabalho num lugar desse... Bem sei das historias do Leo em Leeds. A fartura eh tamanha que ele chega a ter uma agenda, para nao se esquecer qual a garota que vai sair em determinado dia. Alias, bem sei das historias de Leeds. Cidade em grande expansao, foi pelo segundo ano seguido eleita a "capital do menage-a-trois" na Inglaterra (perdoem o meu frances, mas nao gosto desse idioma nem iria perder tempo indo no Google buscar a forma correta. Se ta errado, tudo bem, deu pra entender o que eu quis dizer, neh!?). Tem muita mulher e faltam homens; ou Homens com H maisuculo, talvez. E a mulherada nao da tregua. Atacam em bandos, e eh super comum o 2-4-1 (forma em ingles de "dois por uma" - "two FOR one"). Vc conhece uma menina, fica com ela, e na hora de leva-la em casa, ela avisa: "mas a minha amiga vai dormir lah em casa hoje e ela tem que ir com a gente. Espero que voce nao se incomode..." Incomodado? Pfff... acho que nem meu avo ficaria... (e aqui explicando, soh adaptei o classico comercial de absorventes femininos)

Depois que o Leo saiu do trabalho, fomos a casa dele, deixamos minhas malas, bebemos uma cerveja e demos um tapa num licor de nome incompreendivel da Latvia, e fomos pra night. Eram mais ou menos 1am, e fomos para uma rua onde ficam varios bares e boates. Mais ou menos como a rua Joaquim Silva, na Lapa, que tem um monte de bares, um do lado do outro, e cada um com estilo diferente... eh essa mesmo, aquela rua que comeca do lado dos arcos, e lah pra meio da rua tem aquela escadaria que liga com Santa Teresa... isso ai! Entao... iamos para o bar O Porto, que rola um rock n'roll bacana, mas tava tao cheio que os segurancas suspenderam um pouco a entrada da galera, ate que outros saissem, e sem saco pra ficar em filas, fomos pro Revolution, do outro lado da rua. Chegamos lah, pegamos uma cerveja, e fomos pra beira da pista de danca, pra analisar a mulherada, e ver o que ia acontecer. Durante aquele primeiro pint, nada aconteceu, mas beleza, estavamos conversando, tava legal o ambiente, vamo pegar outro...

Fui no balcao pegar mais duas cervejas, e o Leo foi lah fora atender o raio do celular, que vira e mexe tocava ou recebia uma mensagem; mais tarde vim a saber que era uma russa que ele ta ficando, e naquela noite eles deveriam estar juntos, mas nao estavam... mais tarde, naquela mesma noite, ele ainda iria ve-la... rsrs. Depois que peguei os pints e paguei, fiquei ali pelo balcao mesmo, pois ainda tava terminando o meu pint anterior, e tava com os dois novos ali, e nao daria pra carregar. Teria que esperar pelo Leo.

Foi quando notei ao meu lado uma loira pra lah de gostosa: 1.75m (logo, mais alta que eu), toda boazuda, vestidinho coladinho, barriguinha zero, comissao de frente avantajada, pernocas sensacionais, enfim, escutural. Tava ali tentando comprar a bebida dela, mas que devido a sua voz - feminina - e aos 811.000.000 de watts de musica despejados nos nossos ouvidos - incluindo nos do barman - nao conseguia se fazer ouvida. Ela entao vira e pra mim e fala:

[letras maiusculas indicam gritos]

- DO YOU BLABLABLA BLABLABLA BLABLABLA...


♫♪ TUM-TCHI-TUM TCHI-TUM... ♫♪

E eu:

- I'M SORRY, WHAAAT???

E ela:

- COULD YOU BLABLABLA BLABLABLA BLABLABLA...

♫♪ TUM-TCHI-TUM TCHI-TUM... ♫♪

E eu cheguei perto do ouvido dela e falei: (o dialogo que segue foi traduzido do ingles)

- Nao to te escutando, fala mais perto...

Ai ela encostou a boca no meu ouvido e disse:

- Voce pode comprar uma bebida pra mim? Ta aqui o dinheiro, oh... eh que o barman nao ta me escutando daqui...

Eu me virei pra falar no ouvido dela, e passei a 3cm de sua boca.

- Beleza, compro sim. O que voce quer?

- Um copo de vinho branco.

Aih eu fui me virar de novo pra falar no ouvido dela. Ia perguntar se ela tinha alguma preferencia de vinho. Soh que ela, que tava com a boca encostada no meu ouvido (eu tava olhando pra frente, pro bar, pra poder escutar o que ela dizia), nao virou o rosto pra frente, quando eu virei o meu pro lado, pra falar com ela... eis que nossos labios se cruzam, e ela os passam pelos meus... Contato. Toque. Opa, desejo!!

Num misto de nao acreditar e nao estar esperando por tal fato acontecer, dei tempo pra que ela voltasse ao meu ouvido pra falar que podia ser o vinho da casa, mesmo. Aih eu me virei pra falar qualquer coisa com ela, a essa altura ja nao me importava mais, queria era tirar a duvida se o encontro labial foi voluntario ou nao. Me virei pra ela, dei um beijo, e esperei pra ver o resultado: ou seria uma bela duma porrada, que com sorte nao seria nos Meninos, ou seria outro beijo. E nao eh que foi um senhor beijo, o que eu ganhei em seguida??

Lembro-me de, entre o beijo rapido e o longo, ela falar que tinha gostado de mim. Ela partiu pra cima de mim com a maior vontade, e me deu moh beijao. Eu abracei a crianca e continuei os trabalhos. Naquele momento passava pela minha cabeca a imagem dela chegando ao bar, ainda a um metro de distancia de mim, quando fiz a rapida analise acima mencionada, e a musica eletronica que outrora estava ensurdessedora, agora se fazia em sons angelicais, com os anjos tocando arpas e trombetas, e um grande feixe de luz se abrindo em minha frente, como quem chega a porta do Paraiso. Mais ou menos como num clipe ao vivo da musica Another brick in the wall, do Pink Floyd, em que um coral canta e luzes se acendem, ou como no filme Ghost - do outro lado da vida, quando o Patrick Swayze aparece pra Demi Moore, no final do filme... Lembro tambem de, entre o beijo longo e proximo beijo longo que se sucedeu apos alguns segundos de intervalo, ter visto o Leo se aproximando do balcao novamente e, sem entender muito bem o que havia acontecido, pegou o pint dele e ficou ali por perto, bebendo. Mas quando a esmola eh demais, o santo desconfia... essa mina deve ta com algum problema, pensei rapidamente... e aih ainda me lembrei que isso eh uma musica do Gabriel O Pensador. Sorri dentro de mim, e pensei comigo mesmo: O que esta acontecendo aqui??

Quem me conhece ha mais tempo, sabe que mesmo na epoca do volei/karate/muay thai, quando eu quase nao bebia cerveja e tampouco fumava, eu ja nao era do tipo atletico. Acho que na verdade nunca fui, nem nunca serei. Sempre fui da filosofia de que quem gosta de barriga "tanquinho" eh viado; mulher gosta de homem interessante. E voce pode ser interessante por outros metodos... ainda que tarde um pouco mais, do que o metodo de contato visual... perai, perai... oohhh... esse papo ta ficando torto...

Depois de mais uma meia duzia de beijos e alguns goles de vinho e cerveja, ela falou que tinha que ir encontrar com a amiga dela, que tinha ido nao sei aonde. Ora, todo mundo sabe que essa eh a deixa classica quando voce quer se livrar de alguem numa boate. "vou ali rapidinho comprar um guarana e ja volto". E volta nada, da no pe. Pensei comigo mesmo: "eh, foi bom enquanto durou esse nosso relacionamento, mas entendo que ja esta na hora de seguirmos caminhos separados." Ja estava me preparando pra dizer tchau e voltar a beber com o Leo, quando pra minha surpresa ela pega na minha mao, e me leva pra junto da amiga dela... Eu quase derrubo a cerveja, pois na esperava ser puxado pelo braco naquela hora, e soh tive tempo de falar pro Leo um "me segue ai!", ja pensando que essa amiga poderia render algo pra ele tambem... Adiantar os amigos, tambem uma filosofia que sempre carreguei comigo. E o Leo veio atras. E ela achou a amiga. E a amiga era moh gatinha tambem. Elas falaram alguma coisa entre elas e decidiram ir pra area de fora. Parece que a amiga dela queria ir fumar.

Alias, pra quem ainda nao sabe, desde as seis da manha de primeiro de julho desse ano de 2007, eh proibido fumar em qualquer ambiente publico fechado, em todo o Reino Unido. Isso significa que, se vc quer fumar, tem que ir pro lado de fora do bar, pub, boate ou que seja. Mas voltando ao assunto...

Elas decidiram ir pra fora e ela me deu um beijo rapido, e falou "vem comigo". Pegou minha mao novamente, e dessa vez ainda entrelacou os dedos com os meus. Pronto, ja estavamos namorando. E cruzamos a pista de danca, e fomos la pra fora, a amiga arrumou um cigarro com alguem, e o Leo ja partiu pra cima da menina. Soh que aih, com o ar fresco da madruga leediana (essa palavra provavelmente nao existe, apenas foi como me soou agora, pra dizer "de Leeds"), comecou a desfazer-se o encanto. As minas comecaram a mostrar que tavam bem pra la de bebadas, e foi ate nessa hora que o Leo agarrou a outra. Lembro da minha falar comigo pra gente ir pra casa dela, que a amiga ia dormir la essa noite (Oooopaa!!!), e CRAACC!! Ela deixou o copo de vinho dela cair no chao, se espatifando e espalhando vidro pela area. Uma rapida analise na situacao e vi que a mina do Leo comecou a apresentar sinais de que iria entrar em estado vegetativo em poucos minutos, tipo como naquele filme Horizonte Perdido, que quem saisse de Shangrila ficava velho na hora. Trocamos um rapido e olhar e decidimos nao levar aquela festa adiante, pois nesse momento a minha mina (alias, nunca soube o nome dela) comecava a deixar bem claro que tava pra lah de bebada tambem. Usamos nois, a desculpa do "vou ali rapidinho e ja volto", e saimos fora...

Ainda fomos ao O Porto, do outro lado da rua, e bebemos outro pint de cerveja - Amstel, dessa vez - e depois de ver umas menininhas dando um showzinho se pegando, fomos pra casa dormir. Bom, eu fui dormir, porque o Leo ainda foi pra casa da russa dele, lah, e nem voltou pra casa; foi direto pro trabalho.

E assim foi a minha transicao de uma vidinha bem mais-ou-menos em Londres (mais pra menos, pra ser sincero), pra uma vida que ja ta parecendo ser bem promissora, aqui em Leeds, condado de West Yorkshire. Sei que ficou meio grande o texto, mas to precisando praticar a escrita em portugues, senao ja viu, neh, vai ficando cada vez pior. E na verdade, fiquei tao estupefato com o ocorrido que tinha mais que escrever mesmo, guardar pra posteridade. Paixao assim nao acontecem todo dia.... Huummm, cheia de chaaarrmeee... uuummm desejo enorme.... ih, ooohhhh..... (me lembrei de um classico do brega 80's, acho que do Guilherme Arantes... impressionante como esse episodio me deixou meio desconcentrado)


Bom... a voces que chegaram ate aqui embaixo, o meu muito obrigado pela companhia.

Tenho saudade de todos do Brasil, mas realmente, se voces pudessem vir a Leeds e ver como eh isso aqui, tambem pensariam duas vezes em onde querer morar.

Volto em um proximo e-mail, com mais algum causo, ou apenas mandando noticias gerais.

Um grande beijo e um forte abraco,

Mark.


"Escrevo-vos uma longa carta porque não tenho tempo de a escrever breve."
(Voltaire)

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